“Mãe, eu me matriculei em psicologia”, disse a estudante Juliana de Oliveira Rodrigues, de 22 anos.
“Sabe de uma coisa? Eu vou estudar contigo”, respondeu a mãe, Maria Suzana de Oliveira, de 46 anos.
Juliana entendeu como brincadeira, mas era coisa séria. Mãe e filha estão no segundo período do curso superior.
Voltar à sala de aula era um desejo antigo de Maria Suzana, que se tornou realidade com a iniciativa da filha de cursar psicologia. O que não imaginava era que esse retorno aos estudos aconteceria em família. “Quando eu vi que ela escolheu a área que eu sempre gostei, me completou. Eu disse: ‘A gente vai junto’, porque uma dá força para a outra”, disse.
A companhia materna em sala de aula não representa moleza para Juliana. Cada uma faz os trabalhos individualmente e depois compartilham os resultados entre si. A troca de aprendizado é a maior lição que as duas têm com a experiência de estudarem juntas.
“A gente vive em uma sintonia única e as opiniões divergem um pouco. E quando é atividade, eu digo: ‘Olha, você não se escora em mim não, você tem que se esforçar também’”, brinca a mãe.
Antes de seguir a mesma carreira da filha, Maria Suzana formou-se em Recursos Humanos, fez pós-graduação em gestão de pessoas e hoje atua como voluntária em um projeto social. Para Juliana, ter a mãe dentro da mesma sala de aula é algo incomum, mas também um privilégio.
“Eu nunca imaginava. É muito engraçado e é vantajoso também, não vou negar. Nós temos personalidades muito diferentes. A gente discute as questões na aula, mas é algo que se alinha sempre. É uma construção de conhecimento. Quando eu não entendo, ela me explica e quando ela não entende, eu explico para ela”, disse.
Juliana conta que a inspiração para começar a fazer o curso de psicologia surgiu com o primeiro emprego em uma escola de educação infantil. No futuro, ela pretende acompanhar o processo de desenvolvimento de crianças.
“É algo que eu gosto, de verdade. Quero montar uma clínica. Criança demanda muito e os pais, às vezes, não entendem as crianças. Então, é uma coisa que ajuda muito e ainda é escassa. Os pais não costumam levar os filhos para o psicólogo”, diz Juliana, que é mãe de Maria Clara, de apenas um mês de nascida.
A convivência harmoniosa em casa, com bom humor, também ocorre entre mãe e a filha na turma da faculdade. A relação serve de exemplo para outros estudantes. E há quem testemunhe a favor das alunas.
“Quando há uma qualidade nessa relação, há sim um benefício. É um benefício no sentindo de ter uma rede de apoio, na perspectiva do apoio emocional, também na questão do suporte que se dá a ambas as pessoas. E desde o primeiro período da faculdade, eu observo uma relação importantíssima de parceria entre a Juliana e a Maria Suzana”, afirma o professor de psicologia Solano Pinto Cordeiro, ao fazer uma rápida análise da personalidade de mãe e filha.
Mamãe de primeira viagem
Como filha, Juliana também vive a experiência de ser mãe de Maria Clara. A maternidade aproximou a convivência da mãe veterana e da mamãe de primeira viagem. Maria Suzana, agora avó, acompanhou a gravidez da filha e pôde instrui-la sobre cada etapa da maternidade.
A jovem estudante passou por desafios, como a mudança nos hábitos, na rotina e na faculdade. Mas a nova etapa também trouxe percepções diferentes na forma de ver o mundo e no significado de ser mãe.
“Acho que depois que eu me tornei mãe, eu entendi muita coisa. Hoje, a minha mãe representa para mim segurança, abrigo, afeto, compreensão, cuidado, porque eu sou filha única”, disse Juliana.
“A maternidade é puro amor. Você sente dor, sente cansaço, irritação, mas, ao mesmo tempo, tem que ter paciência. Então, hoje, o amor que eu tenho pela minha filha eu sei que é o que a minha mãe tem por mim. Hoje, eu entendo o que é a maternidade”, completou.
Pode acreditar
“Esse é o primeiro dia das mães juntas como acadêmicas de psicologia. As pessoas, às vezes, dizem: ‘é mãe e filha? não acredito’. Eu digo: ‘pois é, pode acreditar’”, disse Maria Suzana. “Eu acho que palavras não podem mensurar a gratidão e o amor que é ter ela ao meu lado nesse momento de conhecimento. A minha filha é um presente na minha vida”.
Fonte: Amazonas Atual – Nenhuma violação de direitos autorais pretendida